terça-feira, 11 de março de 2008

Sombras do Dia – Preludio Matinal

Capitulo I:
Sete da manha, ainda está escuro lá fora, alias, nos últimos meses deixei de ver o sol. Acordo e faço a barba, quando faço, olho-me ao espelho, passo agua na minha cara duas ou tres vezes para tentar acordar, mas em vão, olho-me novamente ao espelho para tentar perceber se efectivamente sou eu que lá estou, por vezes já não me reconheço, já passou tanto tempo, o mundo está tão diferente que não sei, as vezes duvido que seja eu que ali esteja.

A minha cara esta moida com umas olheiras descomunais, já não procuro por ti, gostava de pensar que já não sinto a falta, mas estaria a mentir a mim mesmo, mas ainda assim, já não me interessa, desisti. Cheguei a triste conclusão na minha mente que não vale a pena, que o teu mundo já não é o meu mundo, e tudo o que te dei foi um erro... tudo não... recuso-me a aceitar que as nossas duas filhas foram um erro, pois para mim, elas são o que mais de sagrado tenho.

E se não estou neste momento ao lado delas é porque tu foste para longe, deixaste-me aqui no escuro e sozinho, mas não faz mal, não por ti, mas eu irei voltar a encontrar-te, pois de ti eu já desisti, mas delas não... delas nunca, e lembra-te que não te vou perdoar nunca por teres fugido com elas... NUNCA!!!

Saio porta fora ainda a vestir o casaco, já não reconheço esta cidade onde habito, a sério, o que era aquele bairro calmo que tanto gostávamos agora parece uma zona de guerra, onde esta tudo destruído, os “miúdos” passam por carros e pegam-lhes fogo. A mim não me fazem mal, sabem que sou do bairro, mas para quem não conhecem, bem, ainda ontem vi quatro ou cinco miuditos de 15 anos a espancar um homem que devia de ter o dobro do tamanho deles.

E enquanto se tavam a distrair, um deles até se virou para mim a dizer adeus e a gritar “Bom Dia”, eu como sempre abanei a cabeça e continuei a andar. Até que um deles parou a brincadeira e veio a correr até passar por mim, e enquanto passava até me gritou... “Sr. Miguel, tá atrasado hoje, mas não se preocupe que eu paro a camionete pa si.” O puto até que é engraçado, é dos mais civilizados aqui no bairro.

E quando a camioneta se encontrava a virar a curva antes da paragem, lá coloca-se ele no meio da estrada com uma pistola apontada para o motorista que para de imediato, pois não pagam aos motoristas o suficiente para levarem tiros...

Segundos depois lá cheguei eu a porta da camioneta enquanto que o puto olhava para mim a rir-se, e a dizer “Ta a ver Sr. Miguel, parou ou não parou”, eu olho para ele, sorriu, coloco a mão no bolso e saco dum cigarro, sim ainda não consegui parar de fumar, olho para o puto e digo-lhe “Toma Miz, e vé lá se não voltas a fazer essa merda que qualquer dia alguém passa-te a ferro.”

E de imediato o puto da-me logo resposta “Bigado Sr. Miguel, mas nã stress, ta td controlado...” e vira as costas volta a correr, agora com um olhar rasgado de vitoria por ter arranjado um cigarro, para acabar o que o que o seu grupinho ainda estava a fazer. Foda-se tou a ficar sem gito, a merda da camioneta esta um pouco mais cara do que no teu tempo, agora já não é os 0,55€, não agora ta mesmo a 1,50€, mas sou um cliente habitual, hoje passo só com uma moeda dum euro.

Ai, caralho, a viagem até a estação dos comboios até que é rápida, só levou meia hora, a bofia decidiu fazer uma operação stop ao pé da escola e tive lá parado um horror de tempo, mais um dia atrasado, mas também já não me importa...

Pronto, cheguei ao comboio, lembro-me sempre de ti aqui... hoje consegui arranjar um lugar sentado, deve de tar para acontecer alguma merda, não é minimamente normal, mas caga nisso, ligo os meus fones, e fico a olhar para a paisagem, que esta quase toda morda, pois onde se via vida e pessoas a passar, neste momento, bem... não interessa, nem sei como as coisas mudaram assim tão rápido, como é que a merda da economia se desmoronou tao rapidamente..., e acho que nem é para saber...

Mas também não importa, mais quarenta minutos e estou em Lisboa para tentar apanhar o autocarro, sim, pois longe vai o tempo em que eu apanhava o metro... o metro esse já não existe mais, desde que se lembraram de fazer o suicídio em massa, que há muito que esta fechado... é me indiferente, sabes, chego a que horas chegar... já nem me importa...


(Fim, da primeira parte das Sombras do Dia... continua, brevemente...)

3 comentários:

contigoateaofim disse...

Olá..Estou à espera da continuação..Muito sentido este post..Parabéns..beijinhos

contigoateaofim disse...

Olá..Estou à espera da continuação..

Muito sentido este post..

Parabéns..

beijinhos

MP3 e MP4 disse...

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