domingo, 20 de maio de 2007



20 de Maio de 2007



Amor,

Quero que saibas que eu te amo. Quero que também saibas que foi por isso que sai de casa e que em vinte e oito anos de casamento fui medido o teu egoísmo, a tua infantilidade, o teu medo medíocre de responder às minhas questões e muitas delas tão banais, como um simples: olá! Tudo bem? Hoje de manhã quando acordei, olhei para ti a dormir a meu lado e realmente decidi avançar com esta minha decisão, sabes porquê? Porque não estou disposto a viver com esse teu falso sorriso, com essa tua expressão no olhar que não sabe mentir, com este amor que mais não passa de uma hipocrisia tão bem alimentada pelas tuas palavras e sabes que mais? Não estou disposto a aceitar o perfume da tua pele, porque odeio aspirar aquilo que realmente não está certo. não vou dizer que tu para mim és uma mentira, porque senão este meu amor que tenho por ti também o era, mas quero que saibas que tu ao longo do tempo foste alimentando mentiras nos teus pensamentos sobre a minha pessoa. Mas, sabes.. a partir deste momento não vou crer mais saber de ti, não quero saber como te vais governar sem mim, uma vez que tu sozinha, nem sequer és capaz de estrelar um ovo. E para que quero eu alguém que se diz ser minha mulher, se não me ajuda nas tarefas de casa, se não me apoia nos bons e maus momentos do meu viver e que só para não mencionar muito o facto de se esquecer do dia no meu aniversário, prefiro enaltecer o dia do nosso casamento, que faz precisamente hoje: vinte e oito anos. Sendo assim, esta minha decisão também surge no sentido de te fazer relembrar nos próximos anos esta data, que se quiseres viver a meu lado, terás de a respeitar com o amor que dizes ter por mim.
Espero que também saibas crescer a nível maternal, porque ainda ontem o Miguel me perguntou qual era o teu nome, e ele, como acho que deves de saber, apenas só tem 4 anos e já sente a tua ausência. Terás então muitas tarefas pela frente, desde levar a Rita à escola e de a ires buscar ao conservatório de música, de mudar as fraldas ao pequeno Ricardo, de conseguires alienar uma estratégia suficientemente estética e madura para conseguires combinar a roupa dos teus filhos. Ah! Não te esqueças que os rapazes não vestem saias. Terás também de pagar as contas em atraso nos correios e no meio de tudo isto conseguires tratar do zoo lá de casa.
Sabes, cheguei a um ponto de saturação da tua pessoa. Não sabes como é difícil no meio de tudo isto eu ainda sorrir para a vida, para os nossos filhos que são a coisa mais importante para mim. Não sabes como me dói a tua ausência por não estares presente nas manhas de domingo a veres os nossos filhos a brincarem à beira-mar, a construírem castelos de areia. Como é "ridículo" o estúpido do cão a correr de um lado para o outro na praia, a saltar por cima das crianças. E eu, no meio de tudo isto, sinto-me abandonado pelo teu amor, que só pensa em ficar a dormir porque na noite anterior esteve até às 4 da manha no casino. A partir de hoje quero ver como vais ter tempo para tudo isto e para muito mais, talvez até para pores em pratica os teus desportos favoritos: as mentiras, as traições, o desinteresse pelos nossos filhos.
A tudo isto, eu te desejo boa sorte e aproveito para te dizer que estou neste momento a viver em casa dos meus pais. não estou a abandonar ninguém, até porque podes dizer aos nossos filhos que me podem ligar sempre que assim o entenderem, contudo, em questões relacionadas com a tua pessoa, quero que saibas que o jogo a partir de hoje inverteu, sou eu que não vou querer saber de ti e não sonhes sequer em vir ter comigo, porque se o fizeres, eu estou disposto a não completar os "vinte e nove anos".
Em virtude de tudo isto, eu ainda te amo muito, nunca te enganei com os meus sentimentos, porque eles são demasiado importantes para serem divididos entre duas pessoas, ao contrário de ti. A propósito, manda cumprimentos ao João, ele deve ser um bom rapaz, mas muito criança ao ponto de escrever nas cartas a palavra "seqsu", em vez de "sexo". Deves de te estar a interrogar, como é que eu sei tudo isto? Um conselho, para a próxima, não deixes algo tão íntimo debaixo da cama, porque aí em casa quem limpa o pó, sou eu. E eu sei do que estou a falar, inclusive a data de uma carta coincide perfeitamente no dia do meu aniversário do ano passado.
Mas, eu sou um homem de perdão e amo-te de verdade ao ponto de te dar um tempo para pensares em toda esta situação. O que será mais importante para ti? O meu amor e os nossos filhos? Ou alguém que numa noite está contigo e na manhã seguinte acorda ao lado de outra?


Tiago

1 comentário:

Ladydemon disse...

Este texto revela muito da tua essência...está verdadeiramente fantástico!! (mas tu sabes que euadoro os teus texto ;) )
E fez-me reflectir muito...
Quantas pesoas se dão ao ponto de passarem por cima si mesmas? Quantas pessoas são magoadas e espezinhadas e continuam a amar incondicionalmente quem só lhes faz mal?
Quantas pessoas perdoam o imperdoável em nome do AMOR que sentem?
E...
Quantas pessoas são cegas ao ponto de não perceberem o que de facto estão prestes a perder?...